Sábado, 27 de Junho de 2009
A epidemia empurra - nos, doença estranha esta que assola o Mundo, que nos faz cambalear; hesitação, incerteza do presente...revelar - se - á o antídoto da esperança no futuro?
A força irá ressurgir, lutemos!
A peste morrerá e por detrás da neblina veremos o Sol esplendoroso...
Minha filha,
Inspiração de um sentimento, suor de um desejo, incerteza na criação, raíz da força numa guerra desigual...do inesperado surgiu a obra - prima, perfeita, graciosa...fonte de união, por ti lutaremos, mostrando ao Mundo que o verdadeiro fruto do amor ilumina ao seu redor...porque o destino assim quis, junto a nós serás feliz!
Terça-feira, 31 de Julho de 2007
Após a acumulação de emoções vividas num tão curto espaço de tempo, iriam regressar por breves dias a Portugal, visitar as famílias e anunciar a novidade. A notícia foi bem aceite e mesmo com entusiasmo dos mais chegados. Os preparativos foram encetados com prontidão, o selar do matrimónio seria nas vésperas do regresso a Inglaterra.
Como parecia um conto de fadas o que estavam a sentir neste momento. Ao percorrer a cidade natal, a nostalgia penetra nos sentidos, apreciar fluxo do Rio Douro tem agora mais significado, ouvir o sotaque tripeiro traz saudade, recordações. A certeza de terem tomado a decisão certa permanece e acentua-se, com a alegria actual a sobrepor-se a todas estas lembranças. Nestes dias em Portugal o contacto entre ambos é intermitente, privilegiando as pessoas cuja companhia não desfrutavam há tanto tempo. A felicidade estampada nos rostos de Miguel e Luísa retira toda a coragem dos familiares em reclamar a sua presença, querem deixá-los viver…
A bagagem estava pronta, tudo a postos para rumar ao destino de férias…
A chegada a este novo país deixou-os fascinados, era tudo o que sonhavam desde adolescentes, quando viam imagens das grandes provas internacionais de surf, o concretizar do imaginário juvenil. Num hotel de cinco estrelas, junto a praia, tomavam o pequeno-almoço sob guarda-sol de palha próximo da piscina. Uma caminhada junto ao mar, o apreciar da diversidade cultural, o descanso, a paz de espírito e o mergulho nas águas cristalinas, na ondulação perfeita. Com a sede enorme de deslizar naquele mar, perfuram as ondas de forma modesta. A prática já não era a mesma de tempos idos. Luísa excede-se, afundando-se inesperadamente. Miguel apercebe-se rapidamente e entra na água de imediato, conseguindo salvá-la eficazmente.
Com a ajuda da equipa de socorristas, volta a si em breves instantes. Tudo não passou de um enorme susto, regressavam ao hotel, atónitos, mas aliviados. A presença do inseparável Miguel, não permitiu uma tragédia, a união entre eles é constantemente reforçada.
Domingo, 4 de Fevereiro de 2007
As lágrimas de Luísa conferiam-lhe um ar de menina, chora de felicidade, pela surpresa. Sendo certo que tudo fazia parte dos seus sonhos ideais, porém pensaria que o momento não estava assim tão próximo. Uma ténue sensação de responsabilidade consciencializada fugazmente, absorvida pela emoção, o abalar de um coração transbordante de sentimento.
O verão aproximava-se e dentro de um ano celebrariam numa cerimónia que concordaram ser simples, reservada apenas aos mais chegados. A surpresa iria, concerteza, consumir todas as expectativas dos familiares. Todavia, oposições perturbadoras não serão esperadas.
A paixão pelo surf e pelo mar conduziram-nos a uma longínqua paragem. Novamente, Miguel com notícias reveladoras de um inesgotável desejo de agradar Luísa. A um sábado de manhã e dentro de uma imprevisível caixa de cereais: dois bilhetes com destino à Austrália. Quando esperava apenas, e com total satisfação, uma visita à terra natal, eis que Miguel surge rompendo com o típico e ordinariamente estatuído. Com histeria vibrante: Tu és um louco Miguel! Só tu mesmo para uma coisa destas! Estou muito feliz, mas temos dinheiro? – Pergunta hesitante, ansiosa, não obstante a prudência revelada. Miguel, tranquilo, com confiança, assegura: Preço especial para funcionários! Um piscar de olho traquina e o país da, até então, inacessível Oceânia à distância de meras horas de voo.
Sábado, 20 de Janeiro de 2007
Poucos meses passados e a situação do jovem casal estabilizava, melhorava gradualmente, a condição económica já nada tinha a ver com a vivida em Portugal; não dependiam sequer dos familiares.
No plano afectivo, uma evolução que parecia não ter ponto em que estancasse, a vivência em comunhão não prejudicou o relacionamento, muito pelo contrário, tornou-o mais sólido.
Numa noite de sábado, em que celebram cinco anos de união, Miguel prepara uma surpresa, iam jantar no melhor restaurante da cidade. Luísa deslumbra-se com a apresentação dele para essa noite, não contava com nada especial, revela ansiedade por saber onde a ia levar. Com uma brevidade provocada pela curiosidade e excitação súbita, Luísa apronta-se; ele fica boquiaberto com a elegância do vestido que também ela havia comprado por precaução para uma eventualidade desta natureza. Um vestido preto acetinado, justo, de decote preciso, nem excessivamente provocante, nem demasiado discreto, uma moderação de sensualidade latente, porém respeitável. O casaco clássico, a capa envolvente num estilo senhoril que provoca o sorriso tímido de Miguel. Tudo se parecia como nos filmes românticos e a inexperiência de ambos nestes restaurantes de extremo luxo não os condicionou ou causou qualquer intimidação.
O encantamento suscitado pelo jantar, um passeio junto ao rio não desprovido de inocência de Miguel, o clima estranhamente ameno, percurso finalizado com um beijo tão espontâneo como os de início de namoro e a verdadeira surpresa: uma serenata com acompanhamento de violino junto ao rio, noite iluminada, uma flor e o mistério desvendado com uma simples mão trémula no bolso do seu próprio casaco. Luísa não falava, era um nervosismo de satisfação, beija-o ela agora com a mesma veemência.
Um anel de noivado onde reflectia o brilho dos olhos lacrimejados: Amo-te! A única e bastante palavra soava aos ouvidos numa voz embargada, sincera…
Sábado, 13 de Janeiro de 2007
O trabalho ia correndo bem, adaptavam-se rapidamente à vida londrina. O mês de Março reservou-lhes uma agradável surpresa: o clube do seu coração ia defrontar o Chelsea num jogo da Liga dos Campeões. Um casal amigo, portistas ferrenhos, solicitou-lhes estadia para poderem assistir ao encontro e conhecer a cidade.
Face às ligeiras saudades da terra e dos amigos este reencontro surgiu no momento ideal, as coincidências permitiram os primeiros sintomas de uma saudade boa porque saciada com uma visita inesperada. A emoção de viver este momento era grande, quando chegaram Sara e Samuel, como bons anfitriões e amigos conduziram-nos, guiaram-nos num conhecimento sintético, como a brevidade da visita exigia, porém com eficácia numa cidade desconhecida para os visitantes.
Ao viverem com intensidade esta visita e o reencontro, o tempo passou rapidamente. – Já só faltam duas horas para o jogo. – diz Samuel entusiasmado, vibrante e sedento de uma vitória histórica. – É melhor irmos já para o estádio. – Miguel atira com um brilho nos olhos, apertando a mão de Luísa com força rumo ao destino.
O estádio estava repleto, em tons de azul, ouvia-se frequentemente o português e confraternizava-se alegremente nas imediações do recinto. Não faltava o bom petisco tipicamente nacional e bom vinho. Os ingleses, numa demonstração de desportivismo associaram-se à festa e não se adivinhavam problemas; com alegria, cânticos entoadas pelas gargantas encharcadas, algumas cargas etílicas normais e a festa fazia-se sentir. Não pensariam que um simples jogo de futebol pudesse ser vivido com toda esta paixão propiciada por uma saudade que já começara a deixar marcas.
A noite fria aquecia por esta envolvência humana, riam-se perdidamente com a folia inglesa e entravam nas disputas saudáveis. – Estes ingleses é que são uns cómicos. - A face de Sara, rosada do frio e algum vinho à mistura, sorria com espontaneidade e contagiava o namorado e os amigos.
O jogo não correu como pretendiam, os ingleses dominaram e venceram, mas a grande vitória do dia foi a de uma alegria que este percalço não condicionou, a noite começava e havia muito que divertir. O sorriso surgiu novamente estampado nos quatro rostos, após uns meros dez minutos de discussão das incidências do encontro.
Quinta-feira, 11 de Janeiro de 2007
A mãe, Paula, procurou uma vida mais sossegada, os relativos sintomas traumáticos que tinha aconselhavam a pacatez. Após um período de reflexão, cedeu ao intuito de Rogério que a cativou pela paz de espírito que lhe proporcionava. Já não sentia amor, tornou-se insensível em virtude da experiência negativa que viveu. Rogério não tem a beleza de Osvaldo, porém em afecto supera-o em larga escala; consciente de que não é amado e de que ama, todavia confiando que o passar do tempo a conduza à superação do passado e incentive a viver um novo amor.
O filho aceitou este companheiro que se tornou um novo amigo com quem começou a gostar de conviver, depois da natural hesitação inicial; sentia-se confortável com os carinhos que viu a sua mãe receber pela primeira vez.
Miguel, desde cedo uma criança encantadora e simpática, de uma beleza herdada de uns pais que fisicamente se complementavam numa quase perfeição. O tom de pele moreno do pai e os traços perfeitos da mãe conjugaram-se dando origem a um belo rapaz.
O pai de Miguel sempre esteve ligado a um modo de vida fácil, o dinheiro que amealhava era de alguns negócios duvidosos em que constantemente aldrabava o próximo. No escasso convívio que Miguel teve com seu pai na infância e adolescência, apercebia-se a espaços da ilicitude latente na actuação do progenitor. Não se identificando com esta forma de agir, tratou de seguir a conduta correcta dos avós que o fizeram crescer.
Após o divórcio, o comportamento de Osvaldo, o pai de Miguel, alternou entre uma vida mundana e frustradas tentativas de assentar junto de algumas companheiras fugazes. O problema ia sempre esbarrar num único sentido – a violência física e verbal. Ele era testemunha dos sucessivos hematomas que surgiam nas ditas madrastas. Osvaldo conseguiu realmente a proeza de voltar a casar. A infeliz que acreditou ser possível a mudança de um temperamento impulsivo, por vezes de cariz psicopata, não tardou em sofrer as consequências da ira súbita e injustificável provocada por zangadas igualmente inadequadas e descabidas. Já era com naturalidade que o filho encarava estas situações. Por sorte o convívio com o pai também se cinge apenas ao escasso fim-de-semana por cada quinze dias. Miguel tentava ser um pequeno psicólogo que o pai necessitava, era impressionante a maturidade que tinha mesmo enquanto criança.
Com apenas doze anos, numa tarde em que passeava com o pai, interpela-o com um ligeiro nervosismo: Pai, porque batias na mãe? Um olhar tímido e triste…o pai irritado, incomodado pela inquietação do menino: a culpa não é minha, um dia vou-te explicar os motivos do meu comportamento. Assim, fugia à frontalidade das questões difíceis. Com delicadeza pega no filho e coloca-o aos seus ombros no extenso espaço verde em que passeiam e jogam a bola.
De facto, o estranho comportamento de Osvaldo até se reflectia nesta ideia: agressivo para as mulheres, mas sem nunca bater no seu menino. Ele sentia carinho pelo pai, porém também alguma pena pela frustração sentimental que o assola.
Sábado, 6 de Janeiro de 2007
Luísa tem orgulho em Miguel, para além da atracção vibrante que a imagem dele lhe provoca, tem uma personalidade que admira. O carinho que demonstra ter por ela, o respeito com que sempre a tratou, a bondade para com aqueles que são mais desfavorecidos.
Luísa, nos tempos de faculdade era uma das raparigas mais pretendidas e nada a demoveu da ideia de estar com o namorado que escolheu. Narciso fez de tudo para a cativar, um rapaz que pensava que o dinheiro poderia comprar tudo aquilo que queria. Narciso era o típico jovem convencido, que sustentando as suas convicções de superioridade no poder e no dinheiro, não obstante a qualidade da figura de aparência muito aceitável, julgava ser o dono de tudo. Não foram as boas roupas e os bons carros que fizeram Luísa vacilar, ela não era igual à maioria e, retirando o gosto por ligeiras extravagâncias, caracterizou-se desde sempre pela simplicidade e modéstia.
Ela não se deixou impressionar pela abundância da família do seu pretendente. Sabendo Luísa do feitio irascível de Miguel em questões amorosas, evitou dizer-lhe o assédio de que foi alvo. Pelo que, a frontalidade com que ele lhe conta as situações em que é envolvido incrementam o seu fascínio. O seu objectivo nunca foi omitir nada, todavia as circunstâncias obrigavam a que usasse este meio para proteger os dois.
Miguel, nos primeiros tempos de namoro pensava que o seu bom aspecto e bons sentimentos fossem insuficientes para Luísa. As moderadas referências a atracção por objectos de bom gosto e por inerência dispendiosos provocavam-lhe hesitação, receando que pudesse ser impressionável por dinheiro. Eram coisas que Miguel não lhe podia proporcionar. O passar dos tempos veio negar este pressentimento, aliviando e confortando Miguel.
Desde cedo Miguel não foi muito favorecido a nível material e sentimental. O primeiro filho de um jovem casal sem rumo certo, pais desempregados, apenas com o apoio dos avós poderia ter uma educação dentro dos parâmetros normais. Pela imprudência dos pais viveria na mais profunda miséria. Este filho surgiu de um dos muitos actos de devaneio dos pais que viviam intensamente a cultura hippie na década de 70. Á custa do esforço dos avós conseguiu estudar e passar continuamente de ano com mérito reconhecido pelos professores. Mas, na infância a crise agudizou-se, os maus tratos que o pai infligia na sua mãe na casa dos avós paternos, onde todos moravam, provocavam um ambiente difícil de aguentar. Foram cinco anos de constante violência física e verbal perante a passividade dos avós. Tudo terminou num divórcio atribulado. Um pai que amava, mas que agredia quem gostava, uma dupla personalidade difícil de explicar e entender para Miguel. Com o processo de divórcio concluído e os caminhos dos pais separados, finalmente Miguel conseguiu aos cinco anos ter um ambiente mais favorável, ao viver somente com os avós, visitando regularmente os pais que entretanto refizeram as suas vidas, adquirindo uma maior maturidade e estabilidade.
Sábado, 23 de Dezembro de 2006
Miguel chega a casa após o dia de trabalho e Luisa já o esperava. Ela tinha saído mais cedo e preparava o jantar. Ele hesitava, ela sentia-o estranhamente apreensivo, não sabia se deveria contar o que aconteceu. Se é sincero, Luisa poderá vir a ter dificuldades de relacionamento com as colegas, prejudicando-se no emprego. Todavia, Miguel assume a intenção de contar a verdade, convidando-a a passear um pouco. Enquanto tomam o café conta-lhe o sucedido. Não conseguia nunca guardar algum segredo, entendia que a melhor forma de se ter a confiança de quem se gosta seria pela sinceridade. Luisa ficou feliz pela prova do homem honesto que tinha como namorado e beija-o com orgulho. - Eu só quero uma mulher, que és tu Luisa!. A face fica avermelhada e o sorriso de criança traquina fá-lo sentir a confirmação do sentimento por ela.
Miguel conheceu outras antes de Luisa, porém nenhuma o tocou com profundidade, eram apenas namoricos de adolescente, sem partilha de sentimentos nobres e carinhos sinceros. Nas longas conversas que sempre teve com ela, confessou-lhe até com certa ingenuidade que nunca teve prazer com mais alguma mulher...